quarta-feira, 4 de julho de 2012

O ELEVADO PADRÃO MUSICAL DO MUNDO BÍBLICO



 O nível moral mais elevado dos israelitas e sua literatura superior, conforme exemplificados pela poesia e pela prosa das Escrituras Hebraicas, sugerem que a música do antigo Israel provavelmente transcendia à dos seus contemporâneos. Por certo, a inspiração para a música de Israel era bem mais sublime do que a das nações vizinhas. De interesse é um baixo-relevo assírio, em que o Rei Senaqueribe é representado exigindo que o Rei Ezequias lhe pagasse como tributo músicos de ambos os sexos. — Ancient Near Eastern Texts (Textos Antigos do Oriente Próximo), editado por J. Pritchard, 1974, p. 288.
Alguns sustentam já por muito tempo que a música hebraica era toda melodia, sem harmonia. No entanto, o mero destaque da harpa e de outros instrumentos de cordas em Israel já pesa fortemente contra tal suposição. É quase inconcebível que um músico tocasse um instrumento de muitas cordas e deixasse de notar que uma combinação de certos tons era bem agradável, ou que uma série específica de notas, como num arpejo, produz um som agradável. Certa fonte abalizada em história da música, Curt Sachs, declara: “O arraigado preconceito de que a harmonia e a polifonia [duas ou mais partes musicais ou vozes combinadas] têm sido uma prerrogativa do Ocidente medieval e moderno não tem fundamento.” Ele prossegue dizendo que, mesmo entre culturas primitivas, há muitos exemplos de música em quintas, quartas, terceiras, bem como em oitavas, e que, entre esses povos, incluindo certas tribos de pigmeus, desenvolveu-se a antifonia justaposta (canto alternativo de dois grupos de vocalistas) em regular canto canônico.
Baseado numa pesquisa mundial, Sachs apresenta a conclusão de que “os coros e as orquestras relacionados com o Templo em Jerusalém sugerem um elevado padrão de educação, de perícia e de conhecimento musicais”. Ele continua: “É importante compreender que o antigo Oriente ocidental possuía uma música bem diferente da que os historiadores do século dezenove lhe atribuem. . . . Embora não saibamos como soava essa música antiga, dispomos de suficiente evidência de sua força, de sua dignidade e de sua maestria.” — The Rise of Music in the Ancient World: East and West (A Ascensão da Música no Mundo Antigo: Oriente e Ocidente), 1943, pp. 48, 101, 102.
As Escrituras dão a entender uma conclusão similar. Por exemplo, nos cabeçalhos dos Salmos aparece mais de 30 vezes a expressão “Ao regente” (NM; AT). (Sal 11; e outros) Outras traduções rezam “regente do coro” (BV), “Músico Principal” (AS; KJ; Le; Ro), e “mestre do canto” (ALA; BJ; CBC; PIB). O termo hebraico parece referir-se a alguém que de certo modo orientava a execução do canto, seu arranjo, seu ensaio e o treinamento dos cantores levíticos, ou na sua execução oficial. Talvez isso fosse dirigido ao principal músico de cada uma das 24 turmas de músicos do santuário, ou pode ter sido outro dos exímios músicos, visto que o registro diz que eles deviam “agir como regentes”. (1Cr 15:21; 25:1, 7-31) Em mais uns 20 Salmos, os cabeçalhos são ainda mais específicos na sua referência a “regentes”: “Ao regente, em instrumentos de cordas”, “Ao regente, na oitava inferior”, e assim por diante. (Sal 4, 12, e outros) Além disso, há referências bíblicas aos “cabeças dos cantores”, aos “peritos” e aos ‘aprendizes’. Tudo isso atesta um elevado padrão de música. — Ne 12:46; 1Cr 25:7, 8.
Grande parte do canto em grupo, em Israel, parece ter sido antifônico, quer por dois meios-coros se alternarem em cantar linhas paralelas, quer por um solista e um coro de responso se alternarem. Nas Escrituras, isto parece ser chamado de ‘responder’. (Êx 15:21; 1Sa 18:6, 7) Este tipo de canto é indicado pelo próprio estilo em que alguns dos salmos foram escritos, tais como o Salmo 136. A descrição dos dois grandes coros de agradecimento, no tempo de Neemias, e da sua participação na inauguração da muralha de Jerusalém, indica que cantavam neste estilo. — Ne 12:31, 38, 40-42.
Pode-se dizer que entoar um canto em forma de salmodia situa-se entre o cantar propriamente dito e o falar. Seu diapasão é bastante monótono e repetitivo, com ênfase no ritmo. Embora o salmodiar continue bastante popular em algumas das principais religiões do mundo, seu uso na Bíblia parece limitar-se a endechas, como no caso em que Davi entoou uma endecha pela morte de seu amigo Jonatã e do Rei Saul. (2Sa 1:17; 2Cr 35:25; Ez 27:32; 32:16) Somente numa endecha ou num lamento seria preferível o estilo de salmodia ao da melodia de música, ou à modulação e ênfase oral de pura fala.

A DANÇA NOS TEMPOS BÍBLICOS



Execução rítmica de movimentos do corpo, em geral acompanhada por música, variando desde um ritmo lento até um frenesi violento. A dança é uma expressão exterior das emoções e atitudes da pessoa, muitas vezes as de alegria e êxtase, e raras vezes de ódio e de vingança (conforme exibido nas danças de guerra). As emoções e os sentimentos expressos na dança são realçados por trajes apropriadamente coloridos ou por acessórios simbólicos.
A arte da dança é de origem muito antiga, e desde os tempos mais primitivos tem sido usada por quase todas as raças como meio de expressão emocional, especialmente na adoração. Nas Escrituras Hebraicas ocorrem diversas expressões traduzidas por “dançar”, “dança de rodas”, “dançar em rodas” e ‘saltitar’. O verbo hebraico hhul, que basicamente significa “rodopiar; girar”, também é traduzido por “dançar”. (Jz 21:21; veja Je 30:23; La 4:6.) Dois substantivos que significam “dança; dança de rodas”, derivam deste verbo, a saber, ma·hhól (Je 31:4; Sal 150:4) e mehho·láh. — Cân 6:13; Jz 21:21.
Danças de Vitória e de Festa. Dançarinos expressaram seu sincero louvor e agradecimento a Deus depois que Israel presenciou a demonstração inspiradora de fé do poder de Deus, ao destruir os egípcios. Assim, enquanto os homens se juntavam a Moisés num cântico de vitória, Miriã liderava as mulheres em danças ao acompanhamento de pandeiros. (Êx 15:1, 20, 21) Outra dança de vitória motivada por profundos sentimentos religiosos foi a da filha de Jefté, que saiu para se juntar ao pai em louvar a Deus, por este ter entregue os amonitas na mão dele. (Jz 11:34) As mulheres de Israel, dançando ao som de alaúdes e de pandeiros, aclamaram a volta de Saul e Davi após a vitória de Deus sobre os filisteus. (1Sa 18:6, 7; 21:11; 29:5) A dança fazia parte de certas festividades anuais relacionadas com a adoração de Deus. (Jz 21:19-21, 23) Os Salmos também endossam a dança como meio de honrar e louvar a Deus. “Louvai a Jah! . . . Louvem eles seu nome com danças. Entoem-lhe melodias com o pandeiro e com a harpa.” “Louvai-o com o pandeiro e com a dança de rodas.” — Sal 149:1, 3; 150:4.
Foi uma grandiosa ocasião quando a arca do pacto finalmente chegou a Jerusalém, especialmente para o Rei Davi, que deu vazão às suas emoções numa bem vigorosa dança. “E Davi estava dançando diante de Deus, com todo o seu poder, . . . pulando e dançando diante de Deus.” (2Sa 6:14-17) Na passagem paralela, Davi é descrito como “saltitando”. — 1Cr 15:29.
A dança tinha também significado religioso entre o povo das nações pagãs. As procissões na antiga Babilônia e em outras nações usualmente eram de natureza religiosa, e muitas vezes realizavam-se danças de cortejo como parte do acontecimento. As danças na Grécia usualmente encenavam alguma lenda relacionada com os seus deuses, os quais também eram representados dançando. Danças de fertilidade destinavam-se a estimular as paixões sexuais tanto dos participantes como dos espectadores. Os cananeus realizavam danças de roda ao redor dos seus ídolos e postes sagrados honrando as forças de fertilidade da natureza. A adoração de Baal estava associada com danças frenéticas, desenfreadas. No tempo de Elias houve tal demonstração por parte dos sacerdotes de Baal, os quais, no decorrer da dança demoníaca, cortaram-se com facas, ao passo que continuaram “a mancar em volta” do altar. (1Rs 18:26-29) Outras traduções dizem que “rodeavam manquejando” (VB), “dançavam dobrando o joelho” (BJ; BV), “dançavam com genuflexões” (BMD). Quando os israelitas fizeram o bezerro de ouro, eles também se entregaram a uma forma de dança pagã diante do ídolo, merecendo assim a condenação de Deus. — Êx 32:6, 17-19.
Outras Menções Bíblicas de Dança. Em Israel dançava-se na maior parte em grupo, especialmente as mulheres. Quando homens participavam da dança, faziam isso em grupos separados; pelo visto, os sexos não se misturavam nas danças. As danças eram feitas tanto em cortejo como em roda (Jz 21:21; 2Sa 6:14-16), mas esses tipos de dança não as tornavam parecidas às danças de cortejo ou de roda dos pagãos. Os motivos e objetivos das próprias danças, a finalidade anunciada das danças, os movimentos dos corpos dançantes e as idéias transmitidas por eles aos espectadores são as coisas importantes a considerar e a comparar para se determinar semelhanças nos modelos de dança.
Nas Escrituras Gregas Cristãs, a palavra or·khé·o·mai é traduzida por “dançar”. De acordo com W. E. Vine, “é provável que originalmente significasse levantar, como que os pés; daí, pular com movimento regular”. (An Expository Dictionary of New Testament Words [Dicionário Expositivo de Palavras do Novo Testamento], 1962, Vol. 1, p. 266) Herodes agradou-se tanto da dança de Salomé na festa de aniversário natalício dele, que lhe concedeu o pedido e mandou decapitar João, o Batizador. (Mt 14:6-11; Mr 6:21-28) Jesus Cristo comparou a sua geração às criancinhas que ele observava brincar e dançar na feira. (Mt 11:16-19; Lu 7:31-35) Na ilustração de Jesus a respeito do filho pródigo, porém, usa-se uma palavra grega diferente, kho·rós, da qual deriva a palavra portuguesa “coro”, no sentido de um conjunto de dançarinos. Esta palavra grega tem referência a um grupo de dançarinos, evidentemente a um conjunto de dançarinos contratado como diversão para tal ocasião festiva. — Lu 15:25.

HISTÓRIA DA MÚSICA NA BÍBLIA



A música é uma das dádivas de Deus, por meio da qual o homem pode expressar louvor e agradecimentos ao seu Criador, bem como dar vazão às suas emoções, suas tristezas e suas alegrias. Na adoração de Jeová Deus tem-se destacado especialmente o canto, mas também a música instrumental tem desempenhado um papel vital. Não só tem servido para acompanhar os vocalistas, mas também para complementar seu canto. De modo que não surpreende que haja na Bíblia, do princípio ao fim, inúmeras referências tanto à música vocal como à instrumental, associada com a adoração verdadeira e de outra maneira. — Gên 4:21; 31:27; 1Cr 25:1; Re 18:22.
História. A primeira referência da Bíblia à música ocorre antes do Dilúvio, na sétima geração depois de Adão: “[Jubal] mostrou ser o fundador de todos os que manejam a harpa e o pífaro.” Isto talvez descreva a invenção dos primeiros instrumentos musicais ou talvez até mesmo o estabelecimento de uma espécie de profissão musical. — Gên 4:21.
Nos tempos patriarcais, a música parece ter feito parte da vida, a julgar pelo desejo de Labão, de dar a Jacó e às suas próprias filhas uma despedida com música. (Gên 31:27) Canto e acompanhamento musical marcaram a celebração da libertação no mar Vermelho e dos retornos vitoriosos de batalha, de Jefté, Davi e Saul. — Êx 15:20, 21; Jz 11:34; 1Sa 18:6, 7.
Nas duas ocasiões relacionadas com o transporte da Arca a Jerusalém, havia presentes vocalistas e instrumentalistas. (1Cr 13:8; 15:16) Nos anos posteriores da vida de Davi, Jeová, por meio dos seus profetas Natã e Gade, ordenou o estabelecimento duma organização musical para o santuário. — 1Cr 23:1-5; 2Cr 29:25, 26.
A organização musical iniciada por Davi entrou em pleno funcionamento no templo de Salomão. A grandiosidade e magnitude da música por ocasião da dedicação do templo pode ser apreciada pelo fato de que só os trombeteiros somavam 120. (2Cr 5:12, 13) Mas, ao passo que a nação relaxou na sua fidelidade a Jeová, todos os aspectos da adoração verdadeira sofreram, inclusive a música. Todavia, quando os reis Ezequias e Josias instituíram suas reformas, bem como quando os judeus retornaram do exílio babilônico, fizeram-se esforços para restabelecer o arranjo de música que Jeová havia indicado desejar. (2Cr 29:25-28; 35:15; Esd 3:10) Mais tarde, quando Neemias inaugurou a muralha de Jerusalém, os cantores levíticos, com pleno acompanhamento instrumental, contribuíram grandemente para a alegria desta ocasião. (Ne 12:27-42) Embora as Escrituras não mencionem mais nada sobre a música relacionada com a adoração no templo depois do tempo de Neemias, outros registros, tais como o Talmude, falam de se usar música ali até a destruição do templo em 70 EC.

O CANTO CORAL NO TEMPLO




Em conjunto com os preparativos para o templo de Deus, Davi reservou 4.000 levitas para o serviço musical. (1Cr 23:4, 5) Dentre estes, 288 eram “treinados no cântico a Jeová, todos peritos”. (1Cr 25:7) Todo o arranjo estava sob a direção de três exímios músicos, Asafe, Hemã e Jedutum (pelo visto, também chamado Etã). Visto que cada um destes homens também era descendente de um dos três filhos de Levi, respectivamente Gersom, Coate e Merari, as três principais famílias levíticas estavam assim representadas na organização musical para o templo. (1Cr 6:16, 31-33, 39-44; 25:1-6) Os filhos destes três homens totalizavam 24, todos eles fazendo parte dos já mencionados 288 hábeis músicos. Cada filho foi designado por sortes para ser cabeça de uma turma de músicos. Sob a sua direção havia mais 11 “peritos”, escolhidos dentre os seus próprios filhos bem como de outros levitas. Deste modo, os 288 ([1 + 11] × 24 = 288) músicos levíticos peritos, igual aos sacerdotes, foram divididos em 24 turmas. Caso todos os remanescentes 3.712 ‘aprendizes’ tenham sido similarmente distribuídos, isto daria em média cerca de 155 homens a mais em cada uma das 24 turmas, significando que havia cerca de 13 levitas nos diversos estágios de educação e treinamento musical para cada perito. (1Cr 25:1-31) Visto que os trombeteiros eram sacerdotes, seriam um acréscimo aos músicos levíticos. — 2Cr 5:12; compare isso com Núm 10:8.

A MÚSICA INSTRUMENTAL NA BÍBLIA



 A Bíblia fornece muito pouca informação sobre o formato ou a construção dos mais de uma dúzia de diferentes instrumentos musicais que ela menciona. Portanto, a maioria dos peritos se apóiam muito no que os arqueólogos descobriram a respeito dos instrumentos usados pelas nações contemporâneas, vizinhas. Todavia, isto talvez nem sempre sirva de guia fidedigno, visto que parece que Israel sobressaía em música, em comparação com seus vizinhos. Além disso, alguns relacionaram diversos instrumentos das Escrituras com os usados nos tempos atuais no Oriente Médio, os quais supostamente remontam ao passado. Isto, também, é conjectura.
Os instrumentos musicais da Bíblia podem ser classificados do seguinte modo:
De cordas: alaúde, cítara, harpa.
De sopro: buzina, flauta, gaita de foles, pífaro, trombeta, (possivelmente) neilote.
De percussão: címbalos, pandeiro, sistro.
Veja os artigos sobre os respectivos instrumentos mencionados acima para obter mais informações.
Não há motivo para se crer que os instrumentos musicais de Israel fossem rudimentares em formato, construção ou tonalidade. A Bíblia nota que as harpas e os instrumentos de cordas para uso no templo eram da mais seleta madeira de algum, importada, e as trombetas eram de prata. (1Rs 10:11, 12; Núm 10:2) Sem dúvida, usavam-se os artífices mais habilitados na fabricação dos instrumentos para o templo.
Tanto as Escrituras como manuscritos não-bíblicos, que datam de antes da Era Comum, atestam a qualidade dos instrumentos, bem como a competência dos músicos israelitas. Os Rolos do Mar Morto declaram que várias trombetas tinham de executar complexos sinais “como com uma só boca”. Isto não somente exigiria músicos hábeis, mas também instrumentos construídos de tal maneira, que todos estivessem sintonizados um com o outro. Que não havia dissonância é indicado pelo relato inspirado sobre a música na inauguração do templo de Salomão: “Os [cento e vinte] que tocavam as trombetas e os cantores eram como que um, fazendo um som ser ouvido.” — 2Cr 5:12, 13.
A Bíblia alista apenas quatro instrumentos definitivamente pertencentes à orquestra do templo: trombetas, harpas, instrumentos de cordas (hebr.: neva·lím) e címbalos. Embora isso, nos padrões modernos, não pareça ser uma orquestra completa, nunca se intencionava que esta fosse uma orquestra sinfônica, mas apenas uma para fornecer acompanhamento para o canto no templo. Tal conjunto de instrumentos serviria de modo excelente para esta finalidade. — 2Cr 29:25, 26; Ne 12:27, 41, 42.
Quanto às ocasiões em que os instrumentos sagrados eram tocados, as Escrituras relacionam as seguintes, com referência às trombetas: “No dia da vossa alegria e nas vossas épocas festivas, e nos começos dos vossos meses, tendes de tocar as trombetas sobre as vossas ofertas queimadas e os vossos sacrifícios de participação em comum.” (Núm 10:10) Depois de se estabelecer a organização musical para o templo, é provável que os outros instrumentos se juntassem às trombetas nestas e em outras ocasiões especiais. Esta conclusão, bem como o procedimento musical seguido, parecem ser indicados pela ordem dos eventos descritos por ocasião da renovação dos serviços sagrados pelo Rei Ezequias, depois de ele ter purificado o templo: “Na hora em que principiou a oferta queimada, principiou o canto de Jeová e também as trombetas, sim, sob a regência dos instrumentos de Davi, rei de Israel. E toda a congregação se curvava enquanto ressoava o canto e tocavam as trombetas — tudo isto até acabar a oferta queimada.” (2Cr 29:27, 28) Estarem as trombetas “sob a regência dos instrumentos de Davi” parece indicar que os trombeteiros tocavam de maneira a complementar os outros instrumentos, em vez de se sobrepor a eles. Todo o grupo de músicos ficou postado “ao leste do altar”. — 2Cr 5:12.

A MÚSICA VOCAL NA BÍBLIA




 Os cantores no templo eram varões levitas. Em parte alguma das Escrituras se fala de mulheres vocalistas no templo. Um dos targuns (sobre Ec 2:8) indica claramente que elas não faziam parte do coro. Estarem as mulheres proibidas até mesmo de entrar em certas áreas do templo parece excluí-las de ocuparem ali qualquer posição oficial. — 2Cr 5:12; Ne 10:39; 12:27-29.
Dava-se considerável importância ao canto no templo. Isto se evidencia em muitas referências bíblicas aos cantores, bem como em que eles estavam ‘livres dos deveres’ comuns aos outros levitas, para se devotarem inteiramente ao seu serviço. (1Cr 9:33) Continuarem como grupo especial de levitas é enfatizado por estarem alistados separadamente entre os que retornaram de Babilônia. (Esd 2:40, 41) Até mesmo a autoridade do rei persa Artaxerxes (Longímano) foi exercida a favor deles, isentando-os, junto com outros grupos especiais, de ‘imposto, tributo e pedágio’. (Esd 7:24) Mais tarde, o rei ordenou que houvesse “uma provisão fixa para os cantores, conforme cada dia exigia”. Embora se atribua esta ordem a Artaxerxes, é mais provável que foi emitida por Esdras, à base dos poderes que lhe foram concedidos por Artaxerxes. (Ne 11:23; Esd 7:18-26) De modo que é compreensível que, embora todos os cantores fossem levitas, a Bíblia faça referência a eles como grupo especial, falando de “os cantores, e os levitas”. — Ne 7:1; 13:10.
As Escrituras mencionam outros cantores, homens e mulheres, à parte da adoração no templo. Exemplos destes são os cantores e as cantoras mantidos por Salomão na sua corte; também, os cerca de 200 cantores de ambos os sexos que, além dos músicos levíticos, retornaram de Babilônia. (Ec 2:8; Esd 2:65; Ne 7:67) Estes cantores não-levíticos, comuns em Israel, eram empregados não só para realçar diversas ocasiões festivas, mas também para entoar endechas em tempos de tristeza. (2Sa 19:35; 2Cr 35:25; Je 9:17, 20) O costume de contratar músicos profissionais em ocasiões de alegria e de tristeza parece ter continuado ainda no tempo em que Jesus esteve na terra. — Mt 11:16, 17.
Embora a música não se destaque tanto nas Escrituras Gregas Cristãs como nas Escrituras Hebraicas, ela não é desconsiderada ou despercebida. A música instrumental com relação à adoração verdadeira é mencionada apenas em sentido figurado nas Escrituras Gregas (Re 14:2); todavia, o canto parece ter sido bastante comum entre os servos de Deus. Jesus e seus apóstolos cantaram louvores após a Refeição Noturna do Senhor. (Mr 14:26) Lucas fala de Paulo e Silas cantarem na prisão, e Paulo incentivava os concrentes a entoarem cânticos de louvor a Jeová. (At 16:25; Ef 5:18, 19; Col 3:16) A declaração de Paulo em 1 Coríntios 14:15, a respeito do canto, parece indicar que era uma particularidade regular da adoração cristã. João, ao registrar sua visão inspirada, fala de diversas criaturas celestiais cantarem a Deus e a Cristo. — Re 5:8-10; 14:3; 15:2-4.

O CANDELABRO NO TABERNÁCULO



Base ou suporte para uma ou várias lâmpadas a óleo. Embora mencione candelabros em lares e em outros edifícios (2Rs 4:10; Da 5:5; Lu 8:16; 11:33), a Bíblia dá ênfase primariamente aos candelabros associados com a verdadeira adoração.
No Tabernáculo. Deus orientou Moisés, numa visão, a fazer, para ser usado no tabernáculo, um candelabro (hebr.: menoh·ráh; gr.: ly·khní·a) ‘de ouro puro, obra batida ao martelo’. Junto com suas lâmpadas e utensílios, devia pesar um talento. (Êx 25:31, 39, 40; 37:17, 24; Núm 8:4; He 9:2) Isto equivaleria a cerca de 34 kg, valendo, em termos modernos, uns US$ 385.350.
Formato. Esta luminária para o “Lugar Santo”, o compartimento anterior do tabernáculo (He 9:2), compunha-se de uma coluna central, com seis hastes laterais. Estas hastes curvavam-se para cima, em lados opostos da coluna principal. A coluna, ou talo, central era decorada com quatro cálices esculpidos em forma de flores de amendoeira, alternando-se botões e flores. Não se tem certeza da espécie de flor representada ali; a palavra hebraica pode referir-se a qualquer flor. Cada uma das hastes laterais tinha três cálices, alternando-se botões e flores. A descrição talvez indique que os botões, na coluna central, ocorriam no ponto em que as hastes laterais se juntavam à coluna central. Lâmpadas que queimavam excelente azeite batido achavam-se colocadas no alto da coluna principal, e na extremidade de cada haste. Os acessórios consistiam em espevitadeiras, porta-lumes e vasos de azeite. — Êx 25:31-38; 37:18-23; Le 24:2; Núm 4:9.
A fabricação em si, do candelabro, foi feita sob a supervisão de Bezalel, da tribo de Judá, e Ooliabe, da tribo de Dã. (Êx 31:1-11; 35:30-35) Estes homens, sem dúvida, eram bons artífices, possivelmente tendo aprendido o ofício quando eram escravos no Egito. Mas, Jeová colocou então seu espírito sobre eles, para que o trabalho fosse feito com perfeição, exatamente segundo o modelo revelado e mencionado a Moisés. — Êx 25:9, 40; 39:43; 40:16.
Uso. Moisés “colocou o candelabro na tenda de reunião, defronte da mesa, do lado meridional do tabernáculo”. Evidentemente, ficava paralelo ao lado sul da tenda (do lado esquerdo de quem entrava), defronte da mesa dos pães da proposição. A luz brilhava sobre a “área na frente do candelabro”, iluminando assim o Lugar Santo, que continha também o altar de ouro para incenso. — Êx 40:22-26; Núm 8:2, 3.
Na ocasião em que Moisés terminou a montagem do tabernáculo, em 1.° de nisã de 1512 AEC, ele seguiu as instruções de Deus, de acender as lâmpadas. (Êx 40:1, 2, 4, 25) Mais tarde, Arão fazia isso (Núm 8:3), e depois ele (e os futuros sumos sacerdotes) punham o candelabro em ordem, ‘continuamente perante Jeová, desde a noitinha até à manhã’. (Le 24:3, 4) Quando Arão aprontava as lâmpadas “manhã após manhã”, e quando as acendia “entre as duas noitinhas”, ele oferecia também incenso no altar de ouro. — Êx 30:1, 7, 8.
O candelabro, junto com os outros utensílios do tabernáculo, durante a peregrinação no ermo, era transportado pela família coatita da tribo de Levi. Primeiro, porém, os sacerdotes tinham de cobrir os objetos, porque, conforme Deus avisara, os que não eram sacerdotes ‘não deviam entrar para ver as coisas sagradas nem pelo mínimo instante de tempo, e assim ter de morrer’. O candelabro com os seus acessórios eram cobertos com um pano azul e depois envolvidos numa cobertura de peles de focas, e então era colocado sobre uma barra para ser carregado. — Núm 4:4, 9, 10, 15, 19, 20.
No relato sobre o Rei Davi trazer a arca do pacto ao monte Sião, não se faz menção do candelabro. Evidentemente, permaneceu no tabernáculo nos diversos lugares em que este passou a ficar.
Nos Templos. Davi deu a Salomão os planos arquitetônicos para o templo, planos que havia recebido por inspiração. Estes incluíam orientações para haver candelabros de ouro e candelabros de prata. (1Cr 28:11, 12, 15, 19) Havia dez candelabros de ouro, e eles foram colocados “cinco para a direita e cinco para a esquerda”, ou cinco do lado meridional e cinco do lado setentrional, encarando-se o leste, no Santo do templo. (1Rs 7:48, 49; 2Cr 4:20) Todos os dez eram “do mesmo plano”. (2Cr 4:7) Talvez fossem muito maiores do que aquele que havia estado no tabernáculo, em harmonia com as dimensões maiores do templo e dos seus outros apetrechos, tais como “o mar de fundição”. (2Cr 3:3, 4; 1Rs 7:23-26) Os candelabros de prata, sem dúvida, eram usados nos pátios ou em outras salas, não no Santo e no Santíssimo, porque os objetos dessas duas salas eram de ouro. Assim como no tabernáculo, as lâmpadas dos candelabros de ouro eram acesas “noitinha após noitinha”, constantemente. — 2Cr 13:11.
Quando o templo foi destruído pelos babilônios, em 607 AEC, os candelabros se achavam entre os objetos de ouro e de prata levados da casa de Jeová. — Je 52:19.
Templo reconstruído por Zorobabel. As Escrituras não fornecem nenhuma informação sobre candelabros no templo reconstruído por Zorobabel. Entretanto, Josefo diz que Antíoco (Epifânio) “despojou o templo, carregando com . . . os candelabros de ouro”. (Jewish Antiquities [Antiguidades Judaicas], XII, 250 [v. 4]) O livro apócrifo de Macabeus menciona a remoção dum “candelabro”, tornando necessário a fabricação de um novo. — 1 Macabeus 1:21-23; 4:49, 50, BJ.
Templo reconstruído por Herodes. A magnificência do templo reconstruído por Herodes forneceria base para se imaginar que esse templo também deve ter contido candelabros de igual beleza e custo que os do templo de Salomão. No entanto, as Escrituras não fazem menção deles. Evidência de tal candelabro é encontrada na sua menção por Josefo e na sua representação num baixo-relevo existente numa abóbada interior do arco triunfal de Tito, em Roma. Neste arco acham-se representados certos objetos tomados de Jerusalém, quando ela foi destruída pelos romanos em 70 EC. Josefo afirmava ter sido testemunha ocular desta procissão triunfal do imperador Vespasiano e de seu filho Tito. Josefo fala de a procissão carregar “um candelabro, igualmente feito de ouro, mas construído num formato diferente daqueles que usamos na nossa vida. Presa a um pedestal havia uma coluna central, da qual se estendiam hastes finas, arranjadas em feitio de tridente, com uma lâmpada trabalhada presa à extremidade de cada haste; havia sete delas”. — The Jewish War (A Guerra Judaica), VII, 148, 149, (v. 5).
Ninguém pode hoje dizer com certeza se o candelabro representado no Arco de Tito tem aspecto exatamente igual ao original no templo em Jerusalém. As diferenças de opinião referem-se principalmente ao formato da base, feita de duas formas poligonais, estando a menor acima da maior. Um conceito é que a representação romana, no arco, é exata, mas que o próprio Herodes mudara o formato, diferente da forma judaica duma base triangular, ou tripé, numa campanha de “ocidentalização” para agradar aos romanos. Outros peritos discordam de que a representação seja exata. Painéis decorativos na base retratam águias e monstros marinhos, que eles citam como aparente violação do segundo mandamento.
Alguns concluem que o candelabro original do templo erguia-se sobre um tripé, baseando isso, em parte, nas numerosas representações do candelabro, em diferentes partes da Europa e do Oriente Médio, datando do terceiro ao sexto século, que mostram um tripé como base, alguns tripés com pés de animal. A representação mais antiga do candelabro aparece em moedas de Antígono II, que reinou de 40-37 AEC. Um espécime, embora não muito bem preservado, parece indicar que a base consistia numa chapa com pés. Em 1969, encontrou-se uma representação do candelabro do templo, talhada em gesso, numa casa escavada na parte antiga de Jerusalém. O desenho esquemático indica sete hastes e uma base triangular, todas ornamentadas com botões separados por duas linhas paralelas. No Túmulo de Jasão, descoberto em Jerusalém em 1956 e remontando ao começo do primeiro século AEC, os arqueólogos encontraram desenhos dum candelabro de sete hastes riscados em gesso. A parte inferior parece estar fixa numa caixa ou pedestal.
Assim, à base destes achados arqueológicos, alguns objetam à aparência da base do candelabro no Arco de Tito e sugerem entre outras possibilidades que os entalhes são a concepção de um artista romano, influenciado por formatos judaicos que lhe eram familiares de outras fontes.

OS BORDADOS NO TABERNÁCULO




A antiga arte de usar uma agulha para dar pontos de linha ou de outros materiais de várias cores ou espécies em algum tipo de tecido ou em couro, a fim de produzir uma ornamentação em relevo. A primeira menção bíblica de bordados de padrões e figuras em tecido, por meio de trabalho de agulha, é em relação ao tabernáculo de Israel. Deus encheu de sabedoria de coração os trabalhadores do tabernáculo, Bezalel e Ooliabe, para fazerem, entre outras coisas, todo o serviço de bordador, diferente do trabalho de tecelão. — Êx 35:30-35; 38:21-23.
Em harmonia com instruções divinas, bordaram-se habilmente querubins nos panos de tenda do tabernáculo, figuras estas que eram visíveis do interior do Santo e do Santíssimo. (Êx 26:1; 36:8) Também se bordaram querubins na cortina que separava esses compartimentos do tabernáculo. — Êx 26:31-33; 36:35.
Para se fazer o éfode a ser usado pelo sumo sacerdote, bateram-se lâminas de ouro em folhas finas, das quais se recortaram fios “para os entremear entre a linha azul, e a lã tingida de roxo, e as fibras carmíneas, e o linho fino, como trabalho de bordador”. (Êx 39:2, 3; 28:6) De modo similar, “o trabalho de bordador” entrou na fabricação do “peitoral do julgamento” do sumo sacerdote. — Êx 28:15; 39:8.
O cântico de vitória de Baraque e Débora apresenta a mãe de Sísera à espera de ele retornar do combate contra Israel com despojos que incluíssem vestes bordadas. (Jz 5:1, 28, 30) Deus, em amor, revestiu figurativamente Jerusalém de uma custosa “veste bordada”. Mas os habitantes idólatras dela evidentemente haviam usado vestes bordadas literais para cobrir as imagens dum varão com o qual ela é representada prostituir-se. (Ez 16:1, 2, 10, 13, 17, 18) Deus predisse também por meio de Ezequiel que, por ocasião da queda da rica Tiro às mãos dos babilônios, os destronados “maiorais do mar” ‘se despiriam das suas próprias vestes bordadas’. — Ez 26:2, 7, 15, 16.

BOTÃO DO CANDELABRO


Imagem: Detalhe - botões no candelabro.
Parte ornamental do candelabro de ouro usado no tabernáculo; designado pela palavra hebraica kaf·tóhr, ou kaf·tór, referindo-se, evidentemente, a uma protuberância redonda. (Êx 25:31-36; 37:17-22) Estes “botões” se alternavam com as flores ornamentais no talo principal e em cada uma das seis hastes do candelabro. Alguns dos botões parecem ter formado uma bossa ou apoio saliente para essas hastes. São discerníveis no candelabro representado no relevo existente no Arco de Tito (em Roma), onde se mostra soldados romanos levando os despojos do templo em Jerusalém, destruído em 70 EC.

A BACIA DO TABERNÁCULO



As Escrituras não fornecem uma descrição detalhada das bacias usadas nos tempos antigos, embora tais recipientes costumassem ser de argila, ou eram de madeira ou de metal. Algumas bacias serviam para fins domésticos, como aquelas que estavam entre as provisões levadas a Davi e ao povo com ele, quando fugiram de Absalão. (2Sa 17:27-29) Para este tipo de bacia usa-se a palavra hebraica saf. Esta é também usada para a bacia em que os israelitas, no Egito, puseram o sangue da vítima pascoal (Êx 12:22) e para as bacias do templo que Nabucodonosor levou a Babilônia. (Je 52:19) Esta palavra também pode ser vertida por “taça”, e neste respeito Deus é representado como dizendo profeticamente: “Eis que eu faço de Jerusalém uma taça [saf] que causa tontura a todos os povos ao redor.” — Za 12:1, 2.
Uso no Santuário. Usavam-se também bacias para fins sagrados, em conexão com a adoração de Deus no tabernáculo e nos templos posteriores. Conforme Deus instruiu Moisés, os objetos do tabernáculo incluíam uma bacia grande, que devia ser enchida de água. Ela era de cobre, apoiada num suporte de cobre, e era colocada entre a tenda de reunião e o altar, para prover o sumo sacerdote e os outros sacerdotes de água para lavarem as mãos e os pés, quer antes de entrar na tenda de reunião, quer para ministrar no altar. (Êx 30:17-21; 31:9; 40:30, 31) Esta bacia, chamada de pia em algumas traduções (Al; BLH), fora feita dos “espelhos das serventes que prestavam serviço organizado à entrada da tenda de reunião”. — Êx 38:8.
De acordo com o texto massorético, não havia nenhuma instrução específica a respeito do transporte da bacia do tabernáculo. No entanto, a Septuaginta grega (que concorda com o antigo Pentateuco samaritano) acrescenta em Números 4:14 as palavras: “E tomarão um pano roxo e cobrirão a bacia e seu suporte, e colocá-los-ão numa cobertura de pele azul, e colocá[-los-]ão sobre varais.”
Usa-se a palavra hebraica ki·yóhr (ou: ki·yór), que significa “bacia” ou “lavatório”, para a bacia do tabernáculo. (Êx 35:16 n.) Ela é também usada para as dez bacias que Salomão fez para o uso do templo, nas quais se enxaguavam as coisas que tinham que ver com a oferta queimada. — 2Cr 4:6, 14.
Cada uma das dez bacias de cobre (pias, Al; ALA; IBB) que Hirão fez para uso no templo podiam conter “a medida de quarenta batos”, ou cerca de 880 l de água. Caso essas bacias tenham tido forma hemisférica, isto significa que tinham um diâmetro de talvez 1,8 m. Naturalmente, se fossem bojudas e se estreitassem um pouco nas bordas, as medidas seriam outras, e é preciso observar que a Bíblia não fornece informações pormenorizadas sobre o seu feitio, embora diga que “cada bacia era de quatro côvados”. Cada bacia era colocada num carrocim de quatro rodas, habilmente feito com trabalho ornamental e gravuras, colocando-se cinco à direita e cinco à esquerda da casa. — 1Rs 7:27-39.
Outra bacia de grande tamanho era o enorme e ornamentado mar de fundição, posto sobre 12 touros modelados, e colocado “ao lado direito, ao leste, para o sul” da casa. Continha água para o uso dos sacerdotes. Era circular, tendo 10 côvados (4,5 m) de borda a borda, e 5 côvados (2,2 m) de altura. — 2Cr 4:2-6, 10.
Usa-se a palavra grega ni·ptér para se referir à “bacia” que Jesus usou ao lavar os pés dos seus discípulos. — Jo 13:5; veja Int.
Tigelas. Assim como no caso de outros recipientes mencionados nas Escrituras, as tigelas eram feitas de argila, ou então de madeira ou de metal. O termo hebraico miz·ráq indica um recipiente de metal evidentemente usado em conexão com sacrifícios na adoração. (Êx 27:3; Núm 4:14; 7:13; 1Rs 7:50; 2Cr 4:8) Entre as tigelas maiores usadas em refeições estava o tsal·lá·hhath (“tacho de banquete”; Pr 26:15) e o sé·fel (“grande taça de banquete”; Jz 5:25). Usa-se gul·láh para indicar uma “tigela” (Za 4:2), mas a palavra é também vertida “em forma de tigela” e “redondos” para descrever os capitéis das colunas diante do templo no tempo de Salomão. (1Rs 7:41) Os dois termos gregos para tigelas são trý·bli·on e fi·á·le. Trý·bli·on indica um prato relativamente fundo no qual se tomava a refeição (Mt 26:23), ao passo que fi·á·le refere-se a uma “tigela”, freqüentemente usada para oferecer sacrifícios líquidos. — Re 16:2-17.

BEZALEL - O ARTESÃO DO TABERNÁCULO

 

     Imagem: Esboço moderno do Tabernáculo.

     Bezalel significa "Sob a Sombra (Abrigo) de Deus".

Principal artesão e construtor do tabernáculo, “filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá”. (Êx 31:1, 2; 1Cr 2:20) O próprio Deus designou Bezalel e prometeu que o ‘encheria do espírito de Deus em sabedoria e em entendimento, e em conhecimento, em toda espécie de artesanato, para elaborar projetos, para trabalhar em ouro, e em prata, e em cobre, e em lavrar pedras para engastá-las e em trabalhar madeira para fazer trabalhos de toda espécie’. (Êx 31:3-5; 35:30-33) Estes materiais caros, com os quais Bezalel trabalhava, foram supridos pelas contribuições generosas das pessoas de “coração disposto”, e mostraram ser ‘mais do que suficientes’. — Êx 35:4-9, 20-29; 36:3-7.

Bezalel teve como seu principal ajudante a Ooliabe (Êx 31:6), e havia muitos de “coração sábio” que trabalhavam com eles, todavia, a responsabilidade de orientar o trabalho complicado era de Bezalel. (Êx 35:10-19, 25, 26, 34; 36:1, 2) Isto se evidencia na troca dos pronomes implícitos nos verbos, “ele” referindo-se a Bezalel, e “eles”, a seus auxiliares. (Êx 36-39) A grande diversidade das habilidades de Bezalel, e o fato de que estava cheio do “espírito de Deus” (Êx 35:31), capacitaram-no a superintender a fabricação de panos de tenda e seus bordados, de colchetes de ouro e de cobre, das coberturas externas de peles, das armações dos painéis de madeira, recobertos de ouro, do reposteiro interior (Êx 36); da recoberta arca do pacto e seus querubins, da mesa e seus utensílios, do candelabro de ouro e do altar do incenso, dos prescritos óleo de unção e incenso (Êx 37); do altar da oferta queimada, da bacia de cobre e de seu suporte, do pátio (Êx 38); do éfode e seu peitoral guarnecido de pedras preciosas, e das vestes sacerdotais (Êx 39). Quando Salomão ascendeu ao trono, 475 anos depois, a tenda do tabernáculo, a arca do pacto e o altar de cobre ainda estavam em uso. — 2Cr 1:1-6.

O BANHO NAS ESCRITURAS


   Imagem: Banho cerimonial Hindu.
A palavra hebraica ra·hháts é traduzida quer por “banhar” quer por “lavar”, e aplica-se ao corpo humano e a outros objetos que são limpos por serem mergulhados em água ou por esta ser derramada sobre eles. (Le 16:24; Gên 24:32) Entretanto, para descrever a lavagem de roupa, quando esta é batida debaixo de água, os escritores bíblicos usaram a palavra hebraica ka·vás, aparentada com a árabe kabasa (amassar; pisar) e a acadiana kabasu (calcar). Por isso, lemos em Levítico 14:8: “E aquele que se purifica tem de lavar [uma forma de [ka·vás] suas vestes e rapar todo o seu cabelo, e banhar-se [wera·hháts] em água, e ele tem de ser limpo.” — Veja também Le 15:5-27; Núm 19:19.

A palavra grega para “banho” é lou·trón. — Tit 3:5.

Exige-se limpeza física daqueles que adoram a Deus em santidade e pureza. Isto foi demonstrado em conexão com o arranjo do tabernáculo e o posterior serviço no templo. Por ocasião da sua investidura, o sumo sacerdote Arão e seus filhos banharam-se antes de trajar as vestes oficiais. (Êx 29:4-9; 40:12-15; Le 8:6, 7) Para lavarem as mãos e os pés, os sacerdotes usavam água da bacia de cobre no pátio do tabernáculo, e, posteriormente, do enorme mar de fundição junto ao templo de Salomão. (Êx 30:18-21; 40:30-32; 2Cr 4:2-6) No Dia da Expiação, o sumo sacerdote banhava-se duas vezes. (Le 16:4, 23, 24) Aqueles que levavam o bode para Azazel, os restos dos sacrifícios animais e a sacrificial vaca vermelha para fora do acampamento tinham de banhar a sua carne e lavar suas vestes antes de entrar novamente no acampamento. — Le 16:26-28; Núm 19:2-10.

Requeria-se, por vários motivos, um banho cerimonial por parte dos israelitas em geral. Aquele que se restabelecesse da lepra, aquele que entrasse em contato com coisas tocadas por alguém que tivesse “um fluxo”, o homem que tivesse uma emissão de sêmen, a mulher após a menstruação ou uma hemorragia, ou todo aquele que tivesse relações sexuais era “impuro” e tinha de banhar-se. (Le 14:8, 9; 15:4-27) Alguém que estivesse numa tenda com um cadáver humano ou o tocasse era “impuro” e tinha de ser purificado com água de purificação. Quem se negasse a acatar este regulamento tinha ‘de ser decepado do meio da congregação, visto que profanou o santuário de Deus. (Núm 19:20) Apropriadamente, pois, a lavagem é usada de modo figurativo para indicar uma posição limpa perante Deus. (Sal 26:6; 73:13; Is 1:16; Ez 16:9) Banhar-se com a palavra da verdade de Deus, simbolizada pela água, tem poder purificador. — Ef 5:26.

A Bíblia refere-se de passagem a pessoas se banharem: a filha de Faraó, no Nilo (Êx 2:5); Rute, antes de se apresentar a Boaz (Ru 3:3); Bate-Seba, sem o saber, à vista de Davi (2Sa 11:2, 3); Davi, antes de se prostrar na casa de Deus (2Sa 12:20); prostitutas no reservatório em Samaria (1Rs 22:38). O leproso Naamã, à ordem de Eliseu: “Banha-te e sê limpo”, fez isso sete vezes no rio Jordão. (2Rs 5:9-14) Era costume banhar bebês recém-nascidos e também banhar os corpos de defuntos antes do sepultamento. — Ez 16:4; At 9:37.

No clima quente do Oriente Médio, onde as pessoas andavam em estradas poeirentas com sandálias abertas, era sinal de hospitalidade e bondade providenciar a lavagem dos pés dos hóspedes. Abraão mostrou esta bondade para com anjos (Gên 18:1-4); outros exemplos incluem Ló, Labão e Abigail. (Gên 19:1, 2; 24:29-32; 1Sa 25:41; Lu 7:38, 44; 1Ti 5:10) Também Jesus lavou os pés dos seus discípulos. — Jo 13:5-17.

Os fariseus lavavam “as mãos até os cotovelos”, não por motivos de higiene, mas estritamente por tradições rabínicas. — Mr 7:1-5; Mt 15:1, 2.

A APOSENTADORIA DOS LEVITAS


    Imagem: Levita no tabernáculo.

Aposentar-se é afastar-se a pessoa do serviço ou de certos aspectos dele. Ao designar os levitas (que não eram da família sacerdotal de Arão) para servir na tenda de reunião sob a direção dos sacerdotes, Deus fez amorosas provisões para o bem-estar deles. Ordenou a Moisés: “Isto é o que se aplica aos levitas: Da idade de vinte e cinco anos para cima ele ingressará na companhia do serviço da tenda de reunião. Mas, depois da idade de cinqüenta anos retirar-se-á da companhia de serviço e não fará mais nenhum serviço. E ele terá de ministrar aos seus irmãos na tenda de reunião, cuidando da obrigação, mas não deve fazer nenhum serviço.” — Núm 8:23-26; 1Cr 23:3. Em Números, capítulo 4, descreve-se a organização de serviço, dos levitas. Ali se declara que deviam ser registrados dos 30 aos 50 anos de idade.

Era um trabalho braçal pesado montar, desmontar e transportar a tenda de reunião. Os 96 pedestais de encaixe, de prata, para as armações de painel pesavam um talento (c. 34 kg) cada um; havia também quatro pedestais para as colunas entre os compartimentos do Santo e do Santíssimo, provavelmente do mesmo peso, e cinco pedestais de cobre para as colunas da entrada do tabernáculo. (Êx 26:19, 21, 25, 32, 37; 38:27) As 48 armações de painel (4,5 m de comprimento; 67 cm de largura) eram de acácia, madeira pesada, de fino grão, recobertas de ouro. (Êx 26:15-25, 29) Havia trancas recobertas de ouro passadas ao longo de cada lado e dos fundos do tabernáculo. (Êx 26:26-29) Todos esses objetos eram pesados. Além disso, havia o peso considerável das coberturas de peles de focas, de peles de carneiros, pêlos de cabra, e linho, bem como os cortinados de linho em volta do pátio, com suas colunas, seus pedestais de encaixe, estacas de tenda, e assim por diante. De modo que o manejo do tabernáculo envolvia verdadeiro trabalho muscular. (Êx 26:1-14; 27:9-19) Proveram-se seis carroças para o transporte desses objetos, mas a mesa dos pães da proposição, o candelabro de ouro e o altar de sacrifício recoberto de cobre eram carregados. (Os sacerdotes, não os levitas não-sacerdotais, carregavam a arca do pacto.) — Núm 7:7-9; Êx 25:10-40; 27:1-8; Núm 4:9, 10; Jos 3:15.

Outra finalidade do arranjo de aposentadoria evidentemente era dar a todos os levitas a oportunidade de terem designações de serviço no santuário, porque apenas um número limitado era necessário, especialmente durante o tempo em que a tenda de reunião ou tabernáculo estava em uso. Não havia provisão de aposentadoria para os sacerdotes, os levitas da família de Arão.

Evidentemente, havia um período de cinco anos, dos 25 aos 30 anos de idade, em que o levita servia no que poderia ser chamado de “treinamento”. Pode ser que estes mais jovens não fossem usados para tarefas pesadas, que eram reservadas para os de 30 ou mais anos de idade — homens plenamente adultos. (Veja IDADE.) Mais tarde, depois de a Arca ter sido permanentemente estabelecida no monte Sião (e especialmente na iminência da construção do templo), não existia mais o trabalho pesado do transporte do santuário. Portanto, Davi providenciou que os levitas começassem a servir com a idade de 20 anos. Sem dúvida, isso se fez porque no templo havia necessidade de mais pessoas cuidarem do grandemente aumentado serviço ali. — 1Cr 23:24-27.

Os levitas que se aposentavam à idade de 50 anos não se retiravam de todo o serviço. Eles ainda podiam servir voluntariamente e “ministrar aos seus irmãos na tenda de reunião, cuidando da obrigação”. (Núm 8:26) Eles provavelmente serviam de conselheiros e ajudavam em cuidar de parte do trabalho mais leve incluído na obrigação dos levitas, mas eram poupados ao trabalho mais pesado. E ainda eram instrutores da Lei para o povo. (De 33:8-10; 2Cr 35:3) Os dentre eles que moravam em cidades de refúgio eram de ajuda para os que se refugiavam ali.